Genericamente todos pensamos que o que há de mal não depende de nós! Ora um dos sinais do nosso tempo é que os principais responsáveis pelas decisões e pela administração de um país pensam o mesmo. Consideram que a sua actuação praticamente não influencia negativamente os destinos do país que governam. Esta ideia ganha foros de princípio universal e deve ser por isso mesmo que a Lei não prescreve sanções para estes tipos de actuações debilitadas. A chamada às urnas branqueia tudo! Tudo faz esquecer! Nada mais tosco e fraudulento à luz da razão e da consciência cívica! Como a democracia tem estado a esvaziar-se, esta só pode ser uma democracia fenomenal!
Ao procurar identificar o elemento que mais falta a Portugal agora, múltiplos especialistas consideraram vários factores: Investimento, aumentos de produtividade, infra-estruturas, educação, competência profissional, liderança política, identidade nacional, estiveram na lista de candidatos a factor decisivo do nosso momento presente. Mas, depois de longos estudos e consideração ponderada, foi decidido que aquilo de que Portugal mais necessita, neste momento, é…Vergonha! Como é do conhecimento de todos, a nossa Sociedade, nomeadamente a nossa economia e política, estão a passar por um momento de intensa pouca-vergonha. O desplante, a desfaçatez, o descaramento de nos “cortarem” os subsídios de férias e de Natal e a petulância, estão a atingir níveis incríveis. Ora tratando-se de um elemento básico da vida e natureza humanas, a falta de vergonha tem gravíssimas consequências em todos os níveis nacionais. A vergonha é o tributo que a maldade presta ao bem. Na ausência da vergonha, o erro e a malícia campeiam desordenados. Mas o pior, é o clima moral que se vive.
Em Portugal, neste momento, as pessoas têm vergonha de terem vergonha. A atitude considerada normal é a de não se espantar com nada, para não parecer antiquado, retrógrado e conservador. O clima de facilidade ingénua e de deslumbramento saloio é o que domina a atitude nacional. Os portugueses abriram-se com fervor às maravilhas da vida abastada. Naturalmente, nos momentos iniciais, tudo parece fácil, acessível e aceitável. Pode parecer ridículo, mas os portugueses estão convencidos que, por pertencerem à União Europeia, vivem num país moderno e desenvolvido, e que lhes é permitido, sem consequências, cair na promiscuidade, nos excessos de consumo (a que estavam habituados) e no capricho governativo, esquecendo os princípios familiares, a prudência económica, as regras orçamentais e a dignidade humana. Já para não falar da Honra. Em breve, o País acordará do seu delírio, que já dura há uns largos anos, e que está a atingir níveis de paroxismo. Nesta altura, notará a falta que a vergonha faz.
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